Recentemente tivemos uma quantidade grande de influenciadores sendo acusados de assédio sexual. Dois nomes me saltam à mente: Kevin Spacey e Louis C.K.
O segundo desses dois é um comediante, famoso por seu humor meio ácido. Se não me engano, em alguns de seus stand ups ele crítica firmemente a Igreja Católica por seus casos de assédio sexual e encobertamento de pedofilia. Crítica justíssima, diga-se de passagem.
Porém, qual não foi a surpresa quando um punhado de mulheres começaram a acusar Louis de assédio, mostrando que ele se aproveitava de sua reputação nos círculos sociais para obrigá-las a aceitarem suas “investidas”. Ele até publicou uma carta fazendo referência justamente a isso, ao modo como sua influência nesses círculos subiu sua cabeça, revelando como ele não sentia remorso na época, admitindo não via o que fazia como sendo algo errado.
Comediantes assediadores à parte, é chocante o modo como ele abertamente ridicularizava a Igreja Católica, não sabendo controlar nem seus próprios impulsos e caindo na mesma euforia concedida pela estima externa que muitos padres caem e usam para acobertar seus crimes.
Olhando toda essa cena, com casos tanto de atores e influenciadores famosos quanto casos dentro da Igreja sendo cada vez mais expostos, consigo imaginar de longe os psicanalistas gritando que a culpa pelos abusos, pelo menos dentro da Igreja, é a repressão imposta por uma moralidade arcaica que reprime os desejos sexuais dos pobres coitados dos padres, não restando opção para ninguém, a não ser a emancipação desses mesmos desejos através dos atos mais sórdidos, invisíveis perante a sociedade.
É curioso como um desses pseudo-freudianos é capaz de por a mão no fogo e dizer “Tá vendo, se eles não fossem tão reprimidos!”. Parece até algo que o velho Louis diria; enquanto, claro, abusa das mulheres próximas ao seu círculo, sem o menor peso na consciência ou qualquer questionamento quanto sua hipocrisia.
Louis era o primeiro a fazer uma série de atuações expondo os esquemas de abuso vindo de figuras de autoridade; agora, que essa mesma pessoa acobertava, abusava e intimava mulheres inocentes e sem poder para reagir, isso ninguém é capaz de sequer comentar. Parece até que o caso foi varrido para debaixo do tapete com, no máximo, a publicação de uma carta pedindo umas desculpas esfarrapadas.
Kevin Spacey foi outro que sumiu do mapa. Outro que, sem dúvida, fazia campanhas públicas contra o abuso, posava com uma imagem de homem correto, defensor dos direitos das mulheres. O famoso carismático, capaz de cativar audiências…. e acusado de assédio sexual por toda sua carreira.
Não me surpreenderia se no futuro uma figura como Stephen Fry também fosse acusado de assédio. Hollywood já é suja, quanto mais aqueles que tomam a linha de frente, posando como fontes da justiça no mundo, acusando, com a boca cheia, os outros de seus próprios pecados.
Freudianos não entendem sobre a sexualidade humana. A culpa dos assédios dentro da Igreja não está centrada no fato da suposta repressão sexual erroneamente emancipada em crianças. Senão, clínicas de análise funcionariam e seriam eficientes para acabar com o problema.
Qual, então, é a raiz da coisa toda? Não faço ideia, mas quando ateus liberais, católicos, muçulmanos, gurus new-age,etc. são todos acusados dos mesmos crimes, algo me diz que a raiz não está na “repressão” advinda por parte das Instituições. Talvez esteja na maldade, talvez esteja no descontrole, em complexos mal-resolvidos que vão além da sexualidade, em questões relacionadas ao poder, a uma simples picaretagem, etc. As possibilidades são altas, e no final, os homens são criaturas imperfeitas.
Se a culpa pelos assédios estivesse na continência sexual, pura e simplesmente dessa forma, nós veríamos o mesmo número de escândalos nas comunidades monásticas das outras religiões. Veríamos casos de assédios em grande escala na Igreja Ortodoxa, no Budismo Theravada, e assim por diante. Veríamos qualquer comunidade minimamente ascética padecendo desses males, enquanto pessoas que expressam sua sexualidade seriam as menos suspeitas de cometerem esses abusos.
A realidade, entretanto, é outra. Louis C.K., Kevin, e muitos outros estão aí para mostrar isso. Pessoas que, mesmo tendo uma vida sexual ativa, sentiram-se justificados em abusar e assediar os outros. Enquanto essas abordagens simplórias, derivadas tanto da psicanálise quanto da própria cultura ocidental em relação à sexualidade, forem prevalentes, o problema nunca será resolvido. Enquanto fecharem os olhos para os “bonzinhos”, que são sempre os menos suspeitos, inocentes continuarão sofrendo, sem terem suas vozes ouvidas.
Renan Vieira